Evangelhos

A palavra evangelho procede do grego
“euanguelion”, que significa “boa notícia”. A
princípio, o termo referia-se à mensagem pregada
por Jesus (Mc 1,1). O evangelho deve ser anunciado
por todo o mundo, e a *salvação depende
da aceitação ou recusa a ele (Mc 16,15). De fato,
o cumprimento dessa missão constitui um dos sinais
de que a *parusia está próxima (Mt 24,14).
Mais tarde, a palavra evangelho passou a desig-
nar os escritos que relatavam a vida e a obra de
Jesus. O Novo Testamento compreende quatro
evangelhos denominados canônicos: *Mateus,
*Marcos, *Lucas (também conhecidos como
evangelhos sinóticos) e *João. É bem possível
que, antes da sua redação, existissem compilações
de ditos e de relatos dos milagres, morte e
ressurreição de Jesus. Discute-se a datação exata
deles, mas se pode assegurar que o de Marcos foi
escrito antes de 70 d.C., possivelmente na década
de 60 do séc. I d.C., embora haja razões para situálo
na de 50 e até na de 40. A redação de João e
com certeza a de Lucas — já que Atos, que o antecede,
foi escrito antes de 63 d.C. — possivelmente
poderiam situar-se também antes de 70 d.C.
E mesmo Mateus foi escrito antes de 70 d.C. Em
seu conjunto, boa parte da informação que os
evangelhos apresentam contrastam facilmente
com outras fontes históricas e fidedignas. As descrições
de personagens históricas (*Pilatos,
*Anás, *Herodes etc.) correspondem ao que já
conhecemos de outras fontes e o mesmo pode
dizer-se das descrições relativas ao ambiente
social, político e religioso em que decorre sua
ação.
Além desses evangelhos, existiram outros denominados
apócrifos, porque foram excluídos do
cânon tanto por seu caráter lendário (Evangelho
de Nicodemos, de Tiago etc.), como porque veiculavam
idéias heréticas, como foi o caso dos
evangelhos gnósticos (Evangelho de Tomé, de
Maria etc.)
O *Talmude recolheu fontes judias que nos
informam da hostilidade que os rabinos manifestaram
contra os evangelhos, aos quais zombeteiramente
denominaram ’aven guilyon (páginas de
engano) ou avon guilyon (páginas de pecado) —
(Sb 116a). Em alguns textos talmúdicos, encontramos
ataques a determinadas passagens dos
evangelhos. Assim, Sb 116; Mt 5,13 e Bejorot 8b
questionam Tosefta Jullin 2,20-21, que chega a
acusar os livros cristãos de serem como livros de
bruxaria. Contudo, as referências talmúdicas con-
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firmam os dados evangélicos relativos às causas
da morte de Jesus, à forma de sua execução, seus
ensinamentos, a visão que tinha de si mesmo e a
realização de ações milagrosas atribuídas a Jesus
por ser um feiticeiro (TJ, II, 22-23; TB, Av. Zar
27b; TJ Shab, 14; TJ Av. Zar, 2.2 etc.). Durante
este século, alguns autores judeus têm valorizado
mais os evangelhos tanto a partir de uma perspectiva
histórica como espiritual. Assim escreveu
David Flusser: “Os discípulos de Jesus que relataram
as ações e as palavras do mestre... só podiam
aspirar à máxima veracidade e exatidão, pois
para eles se tratava da fidelidade a um imperativo
religioso e não lhes era lícito afastar-se do que
realmente acontecera; deveriam transmitir, com
a maior exatidão, as palavras do mestre... porque
não se ater fielmente aos fatos colocaria em risco
sua salvação eterna. Não lhes era lícito mentir”
(o. c., p. 148).
D. Flusser, o. c.; F. F. Bruce, ¿Son fidedignos los documentos
del Nuevo Testamento?, Miami 1972; Idem The
canon...; J. Klausner, o. c.; J. A. T. Robinson, Redating...; C.
Vidal Manzanares, El Primer Evangelio...; J. Wenham,
Redating Mathew, Mark and Luke, Londres 1991; P. Grelot,
Los Evangelios, Estella 41993; L. Poittevin e E. Charpentier,
o. c.; A. George, o. c.; J. Delorme, El Evangelio según Marcos,
Estella 131995; A. Juabert, El Evangelio según san Juan,
Estella 111994; E. “Cahiers Evangile”, Jesús, Estella 41993.